Por Dr. Diógenes Freire
A Síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um dos distúrbios endócrinos mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva, afetando cerca de uma em cada dez nesse período. Caracterizada por anovulação e hiperandrogenismo, a mesma está associada a múltiplas comorbidades, incluindo obesidade, resistência à insulina (RI), dislipidemia, diabetes gestacional (DMG), diabetes tipo 2 (T2D), hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica, qualidade de vida prejudicada (QV) e doenças cardiovasculares.
Estudos recentes sugerem que o hiperandrogenismo e a obesidade, comumente vistos em mulheres com SOP, predispõem o desenvolvimento de Apneia Obstrutiva do sono (AOP). Essa relação é apoiada por uma revisão sistemática recente que mostrou que a prevalência de AOS em mulheres com SOP foi de 32% (HELVACI N et al, 2017).
A AOP é um dos distúrbios respiratórios mais comuns, caracterizada pela capacidade de fragmentar a arquitetura do sono, devido aos recorrentes microdespertares noturnos e às pausas respiratórias causada pela obstrução total (apneia) ou parcial (hipopneia) das Vias Aéreas Superiores (VAS), por no mínimo 10 segundos, levando a alterações cíclicas da frequência cardíaca, pressão arterial, atividade simpática, pressão intratorácica e saturação de oxigênio.
A relação entre a SOP e AOP ainda é estudada, porém até o momento é explicada pelas alterações nos esteróides sexuais (ou seja, altos níveis de andrógenos e baixos níveis de estrogênio) e aumento da adiposidade visceral. Estudos clínicos mostram que a obesidade é muito comum em pacientes com AOS e SOP. Além disso, a AOS está associada a comorbidades semelhantes à SOP, como RI, DMG, DM2, hipertensão, QV prejudicada, DCV e mortalidade. Portanto, é plausível que AOS e SOP possam coexistir e que uma das condições possa contribuir para as comorbidades da outra.
No entanto, a alta prevalência de AOS é pouco reconhecida entre profissionais que acompanham pacientes com SOP. Assim, mulheres com SOP devem ser questionadas sobre sinais e sintomas de apnéia do sono e sonolência diurna excessiva e realizar screening de apneia nos casos positivos.
Portanto, mais pesquisas são necessárias para elucidar completamente os mecanismos causais, visto que uma melhor compreensão da ligação entre AOS e SOP pode levar a melhores opções de tratamento.
Referência:
Helvaci N, Karabulut E, Demir AU, Yildiz BO. Polycystic ovary syndrome and the risk of obstructive sleep apnea: a meta-analysis and review of the literature. Endocrine Connections, v. 6, p. 437–445, Oct. 2017.
Por Dr. Diógenes Freire – Médico
CRM 4231-SE
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