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Seis meses de pandemia: ronco, apneia e distúrbios do sono mais evidentes
Convivendo mais tempo juntas na quarentena, famílias estão percebendo mais problemas ligados à qualidade do sono

E lá se vão seis meses desde que a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil. Nesse período de quarentena, muitas famílias passaram a ficar mais tempo juntas em casa, e alguns “efeitos colaterais” dessa convivência mais intensa começaram a surgir, como os distúrbios do sono. As reclamações sobre familiares que sofrem de ronco e apneia cresceram, como é possível verificar com o aumento da telemedicina para exames do sono em casa.

“O ronco geralmente é negado ou mal percebido por quem sofre com ele, por isso é o tipo de problema relatado por quem convive com a pessoa que ronca. Nessa pandemia, percebemos o aumento do interesse das ‘vítimas’ desse problema em querer resolvê-lo”, disse o diretor científico da Biologix, dr. Geraldo Lorenzi Filho, que é também professor de Pneumologia da FMUSP e diretor do Laboratório do Sono do InCor.

Ele explica que uma investigação médica pode ser dividia em sintomas e sinais. “Sintoma é tudo que o paciente relata ao médico. Sinal é tudo que o médico observa no paciente — por exemplo, uma vermelhidão nas amígdalas que indica uma inflamação. O ronco não é nem um nem outro”, afirmou. “Não é sintoma, porque quem ronca não sabe que está roncando. E não é sinal, porque a pessoa (via de regra) não dorme durante uma avaliação médica. Costumo dizer que o ronco é uma reclamação de uma terceira pessoa, em geral o cônjuge que está acompanhando a consulta. Resultado: o ronco é frequentemente negado ou mal percebido.”

Um ‘sintoma’ de que o ronco e apneia passaram se tornar um problema de convivência na quarentena, é o aumento em 236% nos exames Biologix, uma startup de São Paulo, este ano em comparação com 2019. O diferencial da Biologix é que o paciente não precisa ir até um laboratório, sendo monitorado em sua própria casa.

De janeiro a julho de 2019 a Biologix realizou um total de 2063 exames do sono. Já este ano, considerando o mesmo período dos sete primeiros meses, o aumento foi expressivo, saltando para 6.932 exames realizados.

Ajuda

Uma das pessoas que recorreram ao exame Biologix foi o empresário Fernando Toti, de 35 anos. Nos últimos tempos ele enfrentou um quadro de depressão, engordou 20 quilos, passou a roncar mais e viu sua qualidade do sono piorar. “Com a pandemia, minhas atividades diminuíram e percebi que mesmo assim vivia cansado e com sonolência durante o dia”, afirmou Toti.

A busca por uma melhor qualidade de vida foi impulsionada também pelo fato de que em meio a tudo isso ele logo se tornaria pai. “Eu precisava me cuidar para estar bem e poder cuidar da minha filha também”.

A médica otorrinolaringologista Carolina Ferraz de Paula Soares, que atua em Cascavel (PR), disse que tem visto aumentar em seu consultório a procura de pacientes querendo tratar o ronco e a apneia.

 “Quando a gente vai pensar na causa do porquê durante a pandemia a pessoa vai procurar tratar de patologias que já sofrem há muito tempo, eu acredito que seja o aumento do convívio familiar. Estamos mais tempo em casa, em home schooling, em home Office e mais preocupados com a qualidade do sono e qualidade de vida”, afirmou Dra. Carolina.

Natureza cruel

Com as dificuldades afloradas nesse convívio intenso durante a pandemia, dr. Geraldo Lorenzi brinca com os dilemas domésticos envolvendo o ronco: “a natureza foi muito cruel com os casais, porque os homens tendem a roncar, enquanto as mulheres sofrem mais com insônia. Colocar os dois problemas para dormirem juntos não me parece uma boa ideia”.

O diretor científico da Biologix explica que o ronco é decorrente da vibração da musculatura da garganta, um sinal de que o relaxamento natural durante o sono causou obstrução parcial da passagem de ar. Além do barulho desagradável que dificulta o convívio social, o ronco pode indicar algo comum e mais grave – a apneia obstrutiva do sono.

A apneia é causada pela obstrução completa da faringe em alguns momentos durante o sono. Como a passagem de ar fica comprometida, o paciente passa a fazer esforço progressivo para respirar, mas sem qualquer resultado. “A pessoa  só sai dessa encrenca com um microdespertar, que é um recurso do organismo para restabelecer o tônus da via aérea superior. Isso libera o fluxo de ar e provoca um ronco alto e ressuscitativo. O microdespertar, até por ser curto, não é percebido pelo indivíduo”, explicou dr. Geraldo.

Enquanto o ronco muitas vezes é visto como motivo para chacota com quem ronca, o médico alerta que as consequências da apneia do sono são múltiplas: sonolência excessiva diurna, cansaço, dificuldade de concentração e de memória, sintomas depressivos e até maior risco de doença cardiovascular.

“O ronco pode ser um fator que vai além das crises conjugais pelas noites maldormidas, mas um sério sinal de problemas de saúde que podem piorar, e muito, a qualidade de vida da pessoa”, afirmou.

Sobre a Biologix

O fundador da empresa é o engenheiro elétrico e empreendedor serial Tácito de Almeida. Após vender sua empresa de monitoramento de máquinas agrícolas para uma multinacional americana líder mundial no setor, fundou a Biologix, em 2015. O objetivo foi trazer toda a tecnologia aprendida no setor agrícola para monitorar pacientes a distância e, para isso, Tácito buscou a expertise do Prof. Dr. Geraldo Lorenzi Filho, pneumologista e especialista em Medicina do Sono, professor associado da Faculdade de Medicina da USP e Diretor do Laboratório do Sono do InCor.  

A Biologix conta, hoje, com uma equipe de 22 funcionários e já recebeu dois aportes PIPE fase III da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). No final de 2019, a Biologix recebeu um aporte de um grupo de médicos, bem como do Hospital Israelita Albert Einstein.

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